A Jornada Pedagógica teve o prazer de ter a professora Drª em Educação, Maria Conceição dos Reis, líder do LABERER/UFPE e envolvida nas lutas étnicas e raciais desde meados da década de 90. Ceça Reis, como carinhosamente é conhecida, compartilhou um pouco de suas vivências, seus estudos e sua vida com os docentes da cidade Glória do Goitá - PE. No dia 30 de Junho de 2020, mais de 200 professores e gestores se fizeram presentes para dialogarem sobre as relações Étnico-Raciais na escola (ERER), a fim de orientar sobre as descobertas de novas realidades políticas e autonômicas de um indivíduo.
A palestra abordou uma retrospectiva histórica, o processo educacional regado por uma exclusão e silenciamento, além da grande evasão escolar e baixa taxa de frequência das crianças negras. A pesquisadora traz a reflexão acerca do racismo estrutural que vem marcando ainda mais a sociedade. A escola ainda possui um papel fundamental no ato de educar e acaba sendo um espaço de grande discriminação e problemas raciais. Os pais, os alunos e até professores praticam o racismo, mesmo que em pequenos atos. De acordo com alguns docentes, é muito comum vivenciar atos racistas no meio escolar, especialmente quando ouvem dos estudantes comentários conforme os relatados no encontro:
Vera Lúcia Rufino
“Cabelo de bombril, sai daqui macaco, negro fedorento.”
Nado Brasil
“Vai pra lá, eu não gosto de macaco…”
Suzineide Dantas
“Negro quando não faz M... na entrada, faz na saída.”
Contudo, o movimento negro percebe que possui força para tomar seu espaço e começa a se movimentar e lutar para sua existência e história ser contada e relatada. Depois de 2003, quando a Lei 10.639/03 respondeu as reivindicações do Movimento Negro, a importância de relatar o processo histórico cultural chegou no meio escolar e, ainda assim, a desmistificação sobre a cor da pele ainda vem sendo uma luta. Os alunos, os professores e os funcionários sofrem preconceitos raciais e por isso o estudo das relações étnico-raciais se faz importante, pois tem o objetivo de divulgar conhecimento, cultura e educação para a pluralidade.
De acordo com Ceça Reis, o ERER propõe mostrar a valorização das identidades negras. O papel de cada educador é estudar as condições sociais e emocionais dos estudantes, com o objetivo de resgatar a autoestima, suas habilidades e suas motivações, mostrando seu pertencimento étnico-racial na prática, no seu dia a dia e em todos os espaços que a eles pertencem.
Filipe, professor de História da Escola Santa Rita, relata que o racismo está de maneira explícita entre os alunos e entre os professores no meio escolar. Mesmo não tendo local de fala como um homem branco, mas como educador e hsitoriador e percebendo o seu papel, resolveu chamar professores negros para usarem um livro didático e dialogar sobre a condição da mulher negra, a fim de enfatizar a importância de interromper a força que o racismo tem na escola.
Adriano Alves, professor da Escola Fernanda Dornelas, acredita que estamos construindo a base de um castelo, a fim melhorar e mostrar a importância do movimento negro. Também relata que após vivência, sua aluna sofrendo racismo por causa do seu cabelo, resolveu organizar projeto para enfatizar ainda mais o combate ao racismo.
Nos comentários, o espetadores dialogaram sobre essa estrutura racial :
Suelly Pereira:
”Devemos desconstruir que o lápis de cor bege é cor de pele, vejo isso muito na sala de aula …”
Roza Dias:
” Tenho uma vizinha jovem que sofre preconceito. Falo pra ela que isso é feio e que não podemos ser assim... Todos nós nascemos do mesmo pó e somos todos da mesma carne… Não devemos ser preconceituosos uns com os outros e sim devemos respeitar. “
Taires Gomes:
“De extrema importância esse debate e temos que sempre quebrar esses preconceitos que, às vezes, os alunos nem percebem que estão sendo preconceituosos…”,
Fatima Santana:
“ A escola é um espaço democrático onde todos os assuntos devem ser trabalhos, mas principalmente o respeito, devemos respeitar a todos. “
Por fim, Ceça grifa sobre a importância das nossas ações como docentes, a fim de que nossos estudantes no futuro possam lembrar das nossas atitudes em combate ao racismo.
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