Curadoria será oferecida para oito professoras do Município de Glória do Goitá com o objetivo de incentivar sua autonomia e empoderamento no ensino
A pandemia da Covid-19 afetou as formas tradicionais de ensino. Professores tiveram que se adaptar ao ensino remoto, mas não foi igual para todos. Segundo dados da ONU Mulheres, a “dupla jornada”, ou seja, o trabalho remunerado e atividades domésticas, já era uma realidade antes da pandemia. Em 2019, as mulheres brasileiras trabalhavam mais de 8 horas semanais, além da responsabilidade com os cuidados e afazeres domésticos a mais que homens.
Essas horas foram intensificadas com a pandemia, onde as mulheres tiveram que administrar tudo de casa: cuidar dos filhos, da alimentação, da limpeza e do seu trabalho. Metade das mulheres brasileiras tiveram que cuidar de alguém durante a pandemia, de acordo com a pesquisa “Sem Parar: O trabalho e a vida das mulheres na pandemia”, das organizações Gênero e Número e Sempreviva.
Se compararmos esses dados com a realidade das profissionais de educação, a situação complica ainda mais. A fase preliminar da pesquisa “Sentimento e percepção dos professores brasileiros nos diferentes estágios do coronavírus no Brasil”, do Instituto Península, realizada no início da pandemia, já identificava a sobrecarga das mulheres com o ensino remoto. Das entrevistadas, duas em cada três (67%) estão se sentindo ansiosas , 35% sobrecarregadas e 27% frustradas. Na última fase da pesquisa, o número de professoras sobrecarregadas aumentou para 57%, e mais da metade (53%) estão cansadas.
Diante desse cenário e da necessidade de assistência à essas professoras, Romerita Farias, Jornalista e professora, sorteou oito professoras do município de Glória do Goitá, Zona da Mata de Pernambuco, para ajudar no desenvolvimento pessoal e profissional dessas mulheres. O projeto “Escuta Solidária” foi lançado no encerramento do Festival de Aprendizagem Através do Encantamento, oferecido entre os dias 20 e 22 de Julho pelo Programa de Extensão Residência Docentes nas Ciências, o ReDEC, vinculado à Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
“Eu tenho certeza que esse projeto vai contribuir no processo de transformação, empoderamento e expressividade feminina dessas mulheres. Que elas consigam movimentar os seus projetos de vida e que se sintam empoderadas com a sua história”, explica Romerita.
O projeto será dividido em três blocos. No primeiro, as participantes vão poder conhecer a curadoria, as abordagens que serão utilizadas e compartilhar as suas vivências. No segundo momento, irão refletir sobre suas histórias e as narrativas que as envolvem. A finalidade é fazer com que as mulheres se percebam no mundo, de dentro pra fora. Por fim, depois de dividir e entender as suas histórias, essas professoras vão poder revelar-se e posicionar-se como agente autônomo e transformador de sua realidade.
Morgana Maria, professora da Educação Infantil do município de Glória do Goitá, relata sua expectativa com a curadoria. “Achei super interessante a proposta, e fiquei surpresa ao ser sorteada. Acredito que pode ser muito bom, no sentido de despertar um olhar mais profundo de como me enxergo, ou como algumas pressões do dia a dia podem afetar no nosso desempenho profissional”, afirma.
Com essa curadoria, o ReDEC confirma que suas ações e a aprendizagem vão além da sala de aula, como explica Dalvaneide Araújo, coordenadora do ReDEC e do Programa Cuidar de Si. “Ficamos muito felizes em poder compartilhar esse projeto de escuta ativa para as mulheres profissionais de educação. Desde o início do ReDEC, temos trabalhado na valorização da educação emocional dos professores e estudantes, entendendo que o processo de aprendizagem de forma integral leva em consideração também a família, a comunidade, o colégio e o corpo docente”, diz.
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